Friday, August 18, 2006

A lojinha do Bessa

Jesualdo Ferreira é o novo treinador do FC Porto. Pinto da Costa engraçou com Jesualdo como um presidente de um clube carente de treinador engraça com o que lhe está mais próximo fisicamente. Pinto da Costa observou, gostou, cobiçou e comprou. A sua carteira não tem o poder de satisfazer caprichos, mas lá se vão arranjando uns trocos para uma necessidade premente. No negócio, há que ter olho de lince e ser rápido a tomar a iniciativa, não venha um qualquer novo rico de leste comprar só pelo prazer da ostentação. Um produto sai mais valorizado quando é pretendido por muitos ou quando o possuidor do artigo deseja, com todas as forças e sentimentalismos, mantê-lo. Se, por um lado, o apego a um objecto pode ser legítimo e suficiente para uma intransigência negocial, por outro, pode ser somente manobra de um habilidoso vendedor que procura inflacionar a mercadoria. Não me parece que João Loureiro encaixe em algum destes perfis. Todavia, compreendo a relutância inicial do presidente do Boavista. Certo, é que Pinto e Loureiro disputaram uma inesperada partida de xadrez, jogo em que é necessária paciência. Todos sabem que Pinto da Costa tem um excelente e requintado gosto. A maior prova disso, é a belíssima decoração da sala de troféus do FCP. Ora, também todos sabem que João Loureiro é um excelente comerciante. É daqueles que passa a vida nas marroquinarias, nas feiras e nos chineses, procurando matéria-prima barata e de qualidade. O objectivo é confeccionar bons futebolistas na fábrica da família Loureiro, também conhecida como Estádio do Bessa. Depois de trabalhados, os futebolistas ganham brilho individual e são alvo da cobiça das grandes e ricas lojas expositoras nacionais. Contudo, a lojinha do Bessa é sempre recompensada com um bom lucro dessas vendas. Imaginem o valor de mercado da lojinha axadrezada, se pudesse ter reunido ao mesmo tempo, para consumo próprio, os artigos expostos: Ricardo, Bosingwa, Litos, P. Emanuel, Mário Silva, Petit, Rui Bento, R. Meireles, Timofte, João Pinto e Nuno Gomes. Incalculável o valor de todos estes campeões! Alguns deles, para terem uma maior exposição nacional e internacional, tiveram de abalar do Bessa. Mas todos os boavisteiros sabem que, com os seus futebolistas, a vida é assim. Não estavam, por certo, preparados para a versão treinador. Jesualdo chegou ao Boavista como um profissional brioso no seu ramo. Loureiro encarregou o professor de supervisionar as linhas de montagem do clube. A meta era atingir as competições da UEFA. Porém, no outro lado da Invicta, Co Adriaanse, também conhecido como produtor de laranja holandesa, pensava que ia mandar no pomar dos outros. Não aguentou estar longe do seu e partiu. Pinto da Costa tinha então de recorrer ao (super)mercado. A procura era limitada ao stock existente. Pinto escolheu Jesualdo e teve a paciência necessária para vencer a 'tal' partida de xadrez com João Loureiro. Para Jesualdo, o apelo da marca líder em vitórias em 2005/06, foi irresistível. Jesualdo tem assim a oportunidade de lutar por um sonho antigo: ser campeão. A ele, exige-se que a equipa compre baratas as vitórias e venda caras as derrotas, tanto no plano interno como externo. No poupar é que está o ganho. Afinal, os campeonatos compram-se mesmo no supermercado. Naqueles perto de nós, situados no nosso bairro, à porta da nossa casa. Já alguém se esqueceu de um supermercado chamado "União Desportiva de Leiria"? O cliente que, nessa altura, lá se abasteceu teve razão (mas não de queixa) nas compras e foi...campeão. No fundo, tudo se resume às políticas do negócio. Quanto aos boavisteiros, se quiserem culpar alguém no meio deste processo, o tipo chama-se Co Adriaanse. Eu estou convosco!

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