Monday, December 04, 2006

12ª Jornada da Liga: FC Porto 2-0 Boavista

Divina comédia

O Futebol Clube do Porto venceu o Boavista por 2-0 no sempre aguardado derby tripeiro. E não há Porto-Boavista sem dureza, virilidade, rigidez e conduta a roçar o antónimo do fair-play. Como era esperado, este último derby da Cidade Invicta não sofreu alteração no que à tradição diz respeito. Jesualdo Ferreira mexeu no onze inicial tendo em vista o decisivo Porto-Arsenal de Quarta-Feira, para a Champions League. Assim, Fucile não foi convocado e Cech ocupou a posição do uruguaio, enquanto que João Paulo, Ibson e Bruno Moraes estrearam-se como titulares do FCP na corrente época desportiva. O começo do jogo parecia revelador quanto à predisposição das equipas. O Porto tentava chegar rápido à área boavisteira e o clube do xadrez não poupava esforços a tapar os caminhos da sua baliza. Mas no FC Porto há sempre gente versada em múltiplas actividades. É disso exemplo o minuto 7. Ricardo Quaresma fez emergir a sua faceta de explorador e, depois de se desembaraçar de dois adversários, descobriu o trilho da baliza e rematou às malhas laterais, criando a ilusão de golo no Estádio do Dragão. O 7 portista farejava o golo. O Porto não desistia de procurar a baliza de Khadim, mas diga-se que nem sempre teve êxito nessa busca. O Boavista batia-se com a bravura habitual de quem protagoniza o jogo de uma época. É um facto inegável. O Boavista quando se desloca ao reduto do Campeão Nacional é de uma aplicação notável. Praticando um futebol de raça, agressivo, no limiar da impetuosidade, o clube do Bessa não olhou a meios para dificultar ao máximo a tarefa do FCP. Refira-se que o Boavista foi a 1ª equipa a derrotar o FCP no Estádio do Dragão (0-1), em 20 de Novembro de 2004. Essa proeza ninguém pode usurpar aos axadrezados. No ano transacto, só um livre directo de Quaresma permitiu derrotar os boavisteiros. Este histórico atesta as dificuldades que o FCP sente e comprova o efectivo agigantamento que os ares das Antas provocam nos pupilos de Jaime Pacheco. O Porto pareceu manter-se alheio a estatísticas ou historiais e fez o que lhe competia. Ou seja, correr incessantemente por um golo. O que é certo é que os defensores do Boavista cortavam pela raíz todos os perigos que pudessem advir de pernas adornadas com meias azuis e brancas. Nessa 'ceifa' axadrezada não havia piedade. Nem pelo futebol, nem pelos adeptos, nem pela integridade fisíca de colegas de profissão. A 1ª parte terminou sem deixar saudades. Teve muita luta, mas, de certo modo, foi triste, com pobreza de futebol e conivência do árbitro em permitir o prologamento do jogo faltoso, impedindo assim a fluência do futebol. Esperava-se um jogo diferente na outra metade da partida e principalmente pediam-se golos. Felizmente, não foi preciso esperar muito para assistir a um dos momentos altos da Liga Portuguesa 2006/2007. Ao minuto 51, após um alívio da defesa boavisteira, a bola sobrou para Quaresma. Não se fazendo rogado pois tinha via aberta, o 7 rematou à baliza. No percurso natural da bola, entre os pés de Quaresma e a baliza, não sei ao certo o que se passou na cabeça de Khadim. Aparentemente, preparava-se para apanhar a bola, mas depois num momento de reflexão motivado por alguma lucidez de quem joga para não perder, o guarda-redes do BFC tentava tirar partido da saída da bola das quatro linhas para ganhar uns segundos ou minutos ou mesmo horas, quiçá. Mas para azar dos azares, a bola não saiu pela linha de fundo. Bateu primeiramente no poste e depois nas luvas de Khadim até que se decidiu fazer convidada a entrar na festa do golo. E é assim, ninguém é capaz de negar um capricho a uma bola. Golo hilariante do FC Porto, no mínimo. A paródia estendeu-se longamente por todo o estádio. O povo ria, ria e ria até não poder mais, porque é de frangos que gosta. Se nos primeiros 45 minutos o público se havia lamentado com a qualidade sofrível apresentado pelos artistas, agora era hora de rir. O Boavista parecia ser castigado pelo mau futebol com um lance que figurará no lote dos apanhados do fim do ano. A partir daqui, tudo se tornou mais fácil para o FCP. Aos 58', os tripeiros de azul tiveram uma excelente oportunidade para marcar. Lisandro isolado por Bosingwa permitiu a defesa de Khadim. Teve de se esperar pelo minuto 73' para a contemplação do segundo golo do FC Porto. Meireles marcou um livre na direita, na confusão a bola sobrou para Bruno Alves, que remata e Postiga desvia para golo. Daí até ao final foi a tranquilidade total. A vitória no derby da Cidade do Porto não fugiria mais aos azuis e brancos. O FCP foi a melhor equipa em campo, num jogo que fica marcado pela rispidez dos futebolistas do Boavista e pelo frango de Khadim! Moral da história: para a cura de todas as violências, rir é mesmo o melhor remédio!

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